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A alma do negócio

A agência de propaganda do PT tem contratos com o governo federal e, ao mesmo tempo, já prepara a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff

Por Daniel Pereira e Rodrigo Rangel
2 dez 2013, 19h17

A Pepper Interativa é uma agência de comunicação que presta serviços ao PT. Em 2010, desempenhou papel decisivo na campanha de Dilma Rousseff à Presidência da República, quando fez de tudo um pouco: da produção de conteúdo e organização da militância nas redes sociais ao pagamento, com dinheiro vivo, do aluguel do imóvel de luxo que servia de bunker para a coordenação petista. Essa participação na engrenagem eleitoral ganhou ainda mais destaque depois de VEJA revelar que outra empresa contratada pelo PT, a Lanza Comunicação, montara um grupo clandestino de espionagem no coração da campanha petista. A Lanza teve o contrato rescindido, mas alguns profissionais remunerados por ela foram recontratados pela Pepper para continuar a serviço da eleição de Dilma. De coadjuvante, a Pepper passou a protagonista, tornando-se uma ferramenta imprescindível para a solução de vários problemas. Vitorioso na eleição, o PT retribuiu a ajuda recebida e garantiu à agência contratos milionários custeados com recursos públicos.

No governo Dilma, a Pepper recebeu pelo menos 3 milhões de reais de sete órgãos. Em nenhum dos casos foi contratada diretamente, o que exigiria vencer um processo de licitação. Em todos eles, foi subcontratada por outra empresa, uma forma tradicional de triangulação usada para acobertar certas trocas de favores tão comuns na política brasileira. Coube ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, um dos coordenadores da última campanha presidencial do PT, guiar a Pepper até os cofres da União. Quando Dilma ainda desfilava como candidata, em 2010, Pimentel se reuniu no Rio de Janeiro com representantes da ASTV, uma empresa de comunicação, que passou a trabalhar para a campanha. A empresa foi contratada para enviar mensagens a telefones celulares pedindo votos para Dilma, serviço executado em parceria com a Pepper. Tudo negociado por Pimentel. Formalmente, a ASTV recebeu do PT 800 000 reais, de acordo com a prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral. Mas essa é só a primeira parte da história.

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No governo Dilma, o ministro Pimentel pediu que Alberto Magno, um dos sócios da ASTV, viajasse a Brasília. A empresa seria contratada para prestar serviço ao Ministério da Saúde. Pimentel nunca comandou essa pasta, mas foi ele quem se encarregou de tratar pes­soal­mente do contrato, cujos detalhes foram acertados na sede da Pepper. Numa sala de reuniões da agência, Pimentel contou a Magno que a Pepper seria contratada pela Agnelo Pacheco, agência de publicidade que, vitoriosa numa licitação, prestava serviços para o Ministério da Saúde, e então contrataria a empresa de Magno. Era a subcontratação da subcontratação. O bolo da verba publicitária seria dividido em várias fatias, mas todos sairiam ganhando. O trabalho era parecido ao executado na campanha: enviar centenas de milhares de mensagens de celular, só que desta vez com alertas contra a dengue.

O pagamento à ASTV seria feito de acordo com a quantidade de mensagens enviadas, a depender dos pedidos do Ministério da Saúde. Os valores foram negociados pelo próprio Pimentel, segundo relatos feitos a VEJA, em conversas gravadas, por pessoas que participaram da negociação. O ministério pagaria 22 centavos por mensagem enviada. À ASTV caberia só uma parte desse valor, 8 centavos, o suficiente para cobrir os custos e obter algum lucro. O restante ficaria com a Pepper e, conforme ficou resolvido na reunião, deveria ser repartido “entre algumas pessoas”. Não ficou claro quais seriam os beneficiários. Para se ter uma ideia do superfaturamento do contrato negociado pelo ministro Pimentel, a empresa de Magno gastou 160 000 reais para disparar as mensagens. O Ministério da Saúde, porém, pagou à Pepper quase dez vezes mais pelo serviço: 1,5 milhão de reais. A VEJA, o ministério confirmou que repassou exatamente esse valor à Pepper, subcontratada pela Agnelo Pacheco, “para a produção de mensagens enviadas via SMS, com o objetivo de conscientizar a população sobre as formas de prevenção e riscos da dengue”. Até o mês passado, a ASTV não tinha visto ainda a parte do dinheiro que lhe cabia. Recentemente, os representantes da empresa tentaram falar com Pimentel para cobrar a dívida. Não tiveram sucesso. Procurado, Fernando Pimentel disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se lembra de ter participado da reunião nem de ter frequentado o escritório da Pepper depois que virou ministro.

REENCONTRO - Subcontratada no Ministério da Saúde, comandado por Alexandre Padilha, a Pepper atuou na campanha de combate à dengue contratando uma empresa que trabalhou com ela na campanha de 2010
REENCONTRO – Subcontratada no Ministério da Saúde, comandado por Alexandre Padilha, a Pepper atuou na campanha de combate à dengue contratando uma empresa que trabalhou com ela na campanha de 2010 (VEJA)
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​A Pepper também prestou serviço para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O conselho de administração do BNDES é presidido pelo mesmo Pimentel – e essa não é a única coincidência no caso. A atual mulher de Pimentel, Carolina de Oliveira Pereira, é ex-funcionária do banco e hoje trabalha para a Pepper. Além do BNDES e do Ministério da Saúde, a Pepper teve como clientes, desde 2011, as pastas do Turismo e das Cidades, a Caixa Econômica Federal, o Sebrae e a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, comandada pela ministra Helena Chagas, ex-contratada da Pepper na campanha de 2010. Todos os órgãos afirmam que a lei autoriza as agências de publicidade que venceram as licitações a escolher quem será subcontratado. Essa escolha, conforme a legislação, tem de levar em conta certos requisitos, como a análise de pelo menos três propostas e dos respectivos preços cobrados. Fontes do setor de publicidade dizem, no entanto, que a escolha é subjetiva. Ou seja: sub­contrata-se quem o cliente – no caso, o órgão público – indica.

Aberta em 2007 por jornalistas e publicitários que trabalharam na campanha à reeleição de Lula, a Pepper foi levada pelo marqueteiro João Santana a participar da campanha vitoriosa de Mauricio Funes à Presidência de El Salvador. A relação de Santana com a Pepper, porém, azedou e, ultimamente, chegou ao ponto da ruptura. VEJA perguntou aos donos da Pepper como eles explicariam que sua carteira de clientes públicos tenha crescido justamente depois que a agência passou a trabalhar para o PT, o partido do governo. A agência respondeu que essa era uma “informação estratégica”. Ninguém duvida. E ponha estratégia nisso. A Pepper já está trabalhando na campanha de reeleição de Dilma Rousseff. Na semana passada, a agência defendeu os mensaleiros presos como se falasse em nome da presidente. Foi repreendida pelo Planalto, mas lances assim devem se repetir. O PT reservou 10 milhões de reais para financiar a guerra suja na internet. A primeira aquisição da Pepper com vistas a 2014, fechada recentemente, foi, como era de esperar, a contratação de um conhecido e experimentado especialista em difamação – de adversários e até de aliados que atrapalhem os planos da turma.

Em e-mail encaminhado à redação de VEJA, a agência Pepper Comunicação Integrada, de São Paulo, esclarece que não tem nenhuma relação com a Pepper Interativa, de Brasília, e frisa que não conta com clientes da área pública em sua carteira. Clique para ler o comunicado da Pepper de São Paulo.

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